Sento-me quieta, sem direcções, perdida. Debaixo de mim inconfortavelmente acomoda-se um banco de cimento, frio, gelado, cortante. Não sei onde estou mas decerto não estranho este lugar. Talvez já o tenha percorrido em sonhos largos, vazios, de pedra. Tudo é sonhado a preto e branco, num filme rodado. Não sei de onde veio a fonte de granito que jaz perante o meu olhar, ou de onde veio a água que dela insiste em brotar, molhando a calçada desbotada, onde decerto muitas crianças, agora convertidas em pequenos anjos de pedra, insistiram em brincar, ignorando as suas insistentes mamãs a chamar. E talvez já a fonte tenha secado quando os meus pés decidirem obedecer-me, talvez a água tenha já recomeçado a cair, segurando nela a sofreguidão fresca de quem anseia por uma gota.
Nada fala senão o meu silêncio. Os ciprestes negros devoram os meus olhos, e já me esqueci de deles os desviar. Inalo um ar irrespirável, pesado como se o céu tivesse ardido e labaredas laranja o tivessem engolido, e erguem-se fantasmas cegos à minha frente, como flores vermelhas que brotam perante lágrimas das nuvens.
Quem sou eu? De que são feitos estes sonhos macabros que teimo em sentir? Penas de cristal acomodam-se à minha volta e canso-me mil e uma vezes. Atravessam-me espectros, nesta cidade perdida de um pesadelo qualquer, neste redondo plano infértil de promessas quebradas. Quero mover-me mas os meus sentidos repousam nalgo imaterial, e na calma que se perpetua à minha volta sinto-me incapaz de contrair um músculo sequer, temendo ofender o vazio denso.
Nada fala senão o meu silêncio, senão a minha consciência infindável, o meu eu que nada é. E neste pátio antigo que já antes revivi, temo deparar-me comigo. Pois que traumas me infestam para que tão conspurcada esteja que já nem me reconheça na água congelada da fonte?
Nada fala senão o meu silêncio, e acordo de novo para me encontrar no mesmo sonho, desperto para uma outra cidade, uma outra concepção da realidade que eu componho.
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